Câmera do trecho Osasco – Barueri (Alphaville)
Era uma vez uma estradinha. Pequena. Três simples pistinhas que levavam os viajantes da capital até o interior, lá pertinho do Paraná, passando por Sorocaba, Boituva, Avaré…
Tudo ia bem com essa pequenina estrada até que, logo no seu início, mais ou menos no km 23, foi construído um condomínio fechado. Um grande condomínio, em estado “Alpha”. Numa cidadezinha que, em tupi-guarani, significa “Flor Vermelha que Encanta”.
Apesar dos moradores desse condomínio de luxo terem muito, muito, mas MUITO dinheiro, a “Flor” queria mais, mais e mais receita para a sua “pobre” prefeitura. Então, foi dado o grande golpe: incentivo fiscal para que empresas instalassem suas matrizes ou sedes no bairro planejado.
E elas foram chegando. Aos poucos. Uma aqui. Árvores cortadas. Outra ali. Mais árvores no chão. Apesar de a região ser uma reserva indígena e alguns “proprietários” não possuírem escritura e sim laudêmio, a região foi tomada por apartamentos, empresas, fábricas, shoppings. E o pequeno bairro planejado foi ficando desorganizado. As ruas ficaram desproporcionais para a quantidade de veículos que trafegavam sobre seu asfalto. Os canteiros foram diminuídos e faróis, antes inexistentes, instalados para tentar organizar o trânsito.
E a pequena estrada? Parando, incapaz de comportar tantos operários. Foi aí que veio a grande idéia: privatização! E a “Via” foi salva pela “Oeste”! E fez-se a nova estrada paralela à grande mãe. Iniciando na cidade de origem italiana, morre logo após o bairro da elite. Mas os pobres operários que moravam na cidade da irmã italiana foram submetidos a duas saídas desonrosas e/ou muito onerosas: pagar uma taxa abusiva de R$ 5,40 por 11 míseros quilômetros ou rodar por caminhos tortuosos e perigosos.
Concomitante à inauguração dessa nova avenida, o rei estadual gerou um novo caminho: um semi-anel onde uma de suas saídas desemboca justamente na nova estrada.
O resultado é desastroso! Seus automóveis se cruzam na entrada onde o “Tambor É” abre suas portas aos visitantes.
E os pobres operários, tristes figuras, ou se sujeitam aos caminhos tortuosos ou pagam pedágio para ficarem parados! Isso mesmo, ternos leitores. Todos os dias, faça chuva ou faça sol, mal pagam a taxa, os infelizes trabalhadores assalariados são obrigados a diminuírem a velocidade de seus carros populares até chegar a zero. A estrada mãe? Fluída, livre.
Não pensem que a “Oeste” cogita a possibilidade de liberar os pobres da taxa! Os cofres precisam estar lotados de ouro… Pobre só serve para pagar e o rico, usufruir.
Nem pensar, também, em abrir novas saídas, novas alternativas. Pobre que é pobre, sofredor desde a natividade, tem mais é que ralar, mesmo. E agradecer pelo caminho parado, mas que leva ao seu ganha-pão.
Mas uma pobre “pobre”, talvez a única, se sente no direito de reclamar. Todos os dias ela telefona para a grande “Oeste” pedindo isenção da taxa ou saídas para a estrada mãe.
Espera, ansiosamente, a salvadora ligação de uma mulher chamada “Ouvidoria”. Mas essa senhora deve ser muito ocupada, já que não telefonou até agora.
E assim, meus leitores, termina esta fábula que mais parece roteiro de filme “B” de terror.
Os cofres da “Oeste” abarrotados de dinheiro e os pobres “pobres” operários da irmã italiana presos ao descaso das prefeituras, do governo, de um país que se beneficia dos parcos recursos do povo e condenam os pobres “pobres” aos mais insólitos problemas de trânsito no “grande estado”.
Legenda:
Pequena estrada – Castello Branco.
Flor Vermelha que Encanta – Barueri – SP.
Bairro Alpha – Alphaville – Barueri – SP.
Cidade irmã italiana – Osasco – SP.
“Oeste” – Concessionária Via Oeste.
Rei estadual – Governo do Estado de São Paulo.
Semi-anel – Rodoanel, iniciado no governo Mário Covas, que interliga as rodovias Castello Branco, Anhangüera, Bandeirantes, Raposo Tavares e Régis Bittencourt.
Tambor É – Bairro do Tamboré, idêntico e vizinho à Alphaville, com condomínios para a classe AAAAAA.
A pobre “pobre” – Sandra Pontes.
“Ouvidoria” – Ouvidoria da concessionária Via Oeste.
“Grande estado” – Estado de São Paulo
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Autoria: Sandra Pontes
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Comments
This entry was posted on Tuesday, May 22nd, 2007 at 9:25 pm and is filed under Crônicas & Contos, Denúncia. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
Que absurdo, San!
É verdade, Marconi. Somos obrigados a pagar R$ 5,40 por passagem ou ir por um lugar meio suspeito. E eles nem cogitam a possibilidade de abaixar o preço, liberar ou fazer uma saída para a expressa.
Putz!!!
E o pior é que ele garantem que fazem planejamento antes de fazer essas besteiras…
PelamordeDeus!!!
Beijo
Faz uma ano e meio que escuto da Via Oeste que o caso está em estudo… Devo supor que até aqui a educação nesse país é fraca. Já percebi que repetiram de ano por falta desse estudo!!!
Vamos invadir a Reitoria deles!!!!
A pobre pobre apóia!!!
Pois é, querida.
Nesse país, nesse reino, só o pobre é que se “ferra”!.
Tem uma missão prá você, lá no meu blog. Espero que goste.
Beijos
pois é… por isso que eu quero morar numa casa no campo, bem longe das grandes cidades… e, de preferência, uma casa auto-sustentável – que é pra não gastar com nada e não precisar ir “pra cidade”, comprar coisas. 🙂
também te adoro. e foi muito, mas muito mesmo, bom ler/ouvir isso de ti!
beijocas.
por certo, lhe ouvir doía, e então ela lhe faz ouvidos moucos.
só pode.
😉
que merda á isso?[:(]????
oque é isso 🙂